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Clash By Night. A mulher procura a segurança de um amor confortável, de um ombro onde se apoiar. Somou desilusões e volta a casa, perto das docas, onde ainda vive o irmão.
Conhece dois homens, um, afável e protector, o outro, sensual e inquieto. Escolhe o homem afável e é com ele que decide viver. Surge a criança e a casa torna-se uma verdadeira “casa”.
Até aparecer de novo na sua vida o outro homem, e com ele, o desejo urgente e egoísta. O calor desses dias e dessas noites coincide com os dilemas da mulher.
Passeia ansiosa pela casa. Pelas divisões da casa. Nunca lhe ocorrera que iria perder a criança, que o pai da criança não iria abdicar dela.Hesita no último momento e é mesmo por um triz que consegue voltar atrás. E só porque o seu olhar se modifica. O desejo não é suficiente para dar um sentido à vida.
Nunca vi um rosto iluminar-se assim, como o da mulher quando volta “a casa”. Só por esse rosto da Barbara Stanwick vale a pena ver o filme.
Em The Naked Spur o nosso herói terá uma segunda oportunidade, mas será mesmo por um triz que a descobre.
A sua vida fora destruída por uma traição. Perdera tudo e é esse tudo que ele quer recuperar. Ainda que à custa do prémio pela captura de um assassino procurado.
É absolutamente comovente a forma como surge esse outro amor improvável, a forma como se protegem mutuamente, como se apoiam no final. Nessa paisagem agreste, no meio de homens desconfiados e prontos a trair e a roubar.
Depois de todas as peripécias, quando tudo parece ganho, essa troca do bandido pelo rancho, uma troca justa, descobre que esse tudo era outra coisa. Resolve dar um final digno à história e começar de um outro ponto de partida.
Muitos dias depois... descobri num outro lugar...
Em On Dangerous Ground é a neve muito branca que ilumina tudo. O branco onde tudo se pode escrever.
O nosso herói vive atormentado. Não se sente bem na sua alma, no papel de polícia, na cidade, na solidão, na violência. A cidade sempre escura, a esconder o crime e a decadência. Os preconceitos no olhar do outro que tornam qualquer comunicação impossível. Deixa-se levar pela sua própria violência e acaba por ser despachado por uns tempos para o longínquo norte, onde terá de descobrir o assassino de uma miúda.
O que mais impressiona é aquele branco interminável da neve. Aquela casa tão isolada de tudo. Aquela mulher tão isolada do mundo e, no entanto, o mais próxima possível do mundo. E de tudo o que é humano. Do irmão louco que lhe traz o mundo para dentro de casa e que ela protege do próprio mundo.
A casa é o refúgio, um pequeno mundo onde cada objecto tem uma história, um significado. O homem comove-se, pela primeira vez. E pela primeira vez deixa de lutar contra o mundo. Pela primeira vez chega a casa. Encontra o seu lugar.
A mulher compreende o homem desde o início. Vê melhor porque não é com os olhos que se vê o essencial. E aceita-o sem receio ou condições. Confia porque aprendeu a viver assim. Essa é a forma de o libertar da impossibilidade de comunicar.
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